Tonho e Mano Schapo superam tragédia da última final e são campeões com o São Clemente

Tonho e Mano Schapo foram campeões do Veterano

Era dia 10 de setembro de 2022 quando União São Clemente e Real se enfrentariam na grande decisão do Veterano em São Clemente. A partida estava marcada para às 15h15 da tarde, mas naquela manhã algo que atingiu o emocional do time da casa aconteceu.

Por volta das 05h da manhã um acidente gravíssimo entre São Clemente e Entre Rios do Oeste, na PR-495 envolveu dois jovens conhecidos da comunidade: Andriel Kappes, conhecido como Tonho, e Richard Schapo.

Andriel é goleiro do São Clemente assim como seu pai Antônio - também chamado de Tonho - e goleiro do União São Clemente à época. Richard era sobrinho de Mano Schapo, outro atleta do elenco finalista daquela edição. 

Os dois foram para a UTI e Tonho estava em cirurgia no momento da partida, que apesar das tentativas por parte do União não foi adiada: “muitos de nós queríamos entregar o troféu ao Real e desistir porque isso abalou profundamente o nosso elenco, mas por fim concordamos em jogar pelos garotos e fazer o possível pra conquistar aquele troféu”, conta o técnico Marcos Karling.

Enquanto a bola rolava no Estádio Municipal de São Clemente, Tonho e Mano acompanhavam filho e sobrinho, respectivamente, no hospital, à espera de alguma notícia positiva em meio a preocupação.

Tonho passou quase um mês na UTI e grande parte em coma, mas após uma longa recuperação voltou a jogar bola e segue até hoje nos gramados. Richard infelizmente não teve a mesma sorte. O garoto de apenas 20 anos faleceu nove dias depois do acidente.

O Real acabou vencendo aquela final por 0x1 e ficando com o título. Três anos depois, quis o destino que a comunidade clementina voltasse à decisão da categoria - agora com o nome São Clemente - com a mesma base daquele ano, novamente enfrentando o Alvirrubro de São Roque.

Tonho e Mano Schapo permaneceram no elenco e dessa vez, superando o trauma da última decisão, estavam em campo e contribuíram para o primeiro título da história do clube.

Mano fala sobre o sentimento de reviver a final, depois do acontecido em 2022: “foi uma fatalidade o que aconteceu na última decisão, mas chegar agora de novo à grande final e ser campeão é algo único pra gente. Há muito tempo esperávamos por isso”.

Richard Schapo / Foto: Arquivo pessoal

Para Tonho, é como se o jogo não aconteceu: "é difícil de explicar, é como se aquela final não tivesse existido. Imagina você estar em uma equipe recém formada e ter a chance de ser campeão, é o sonho de todo atleta. Mas a fatalidade do acidente mudou toda essa realidade".

O arqueiro relata que a única preocupação na hora era a vida dos dois: "enquanto o União São Clemente lutava pelo título, os meninos lutavam contra a morte", afirma Tonho. "Poder jogar uma final após três anos e justamente contra o Real eu vejo que é Deus nos dando uma oportunidade, para mim e para o Mano, de jogarmos e sermos campeões, como era pra ter sido naquele dia".

Ele afirma que hoje enxerga o futebol de forma diferente, de que apesar de ser finalista e campeão ser bom, não se compara às amizades e ao companheirismo: "melhor que ser campeão é poder ter meu filho junto comigo e saber que assim como eu, ele também continua jogando futebol. Isso sem esquecer de agradecer a Deus todos os dias pela vida", conclui o agora campeão pelo São Clemente Tonho.

Andriel e Antônio, pai e filho, disputando o primeiro Distrital em São Clemente após o acidente; ambos foram ‘Goleiro menos vazado’ em suas categorias

O futebol muda vidas, resgata outras, é capaz de unir até os mais diferentes seres humanos. A lição é só uma: praticar o esporte com vontade de vencer mas sempre lembrar que o mais importante são os companheiros e amigos que colecionamos em cada parte do campo - e também do lado de fora.
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